domingo, 1 de fevereiro de 2015

Desejos de mãe

Eu só queria acalmar vocês, abraçar forte e garantir que nenhum medo vai assombra-los quando estiverem longe de mim. 

Queria pegar suas mãozinhas pequeninhas e enfiar no meu tórax pra levarem consigo meu coração, onde quer que fossem. 

Queria impedir cada lágrima de cair, fosse de birra, de dor ou de chateação porque o brinquedo novo quebrou. 

Eu queria vestir uma capa, pegar um laço e alcançar tudo que vocês quisessem, feito a mulher maravilha. 

Queria tirar os espinhos das flores e esterilizar o mundo pra nenhum micróbio fazer mal a vocês. 

Queria virar balanço, piscina em tarde de sol, o sorvete preferido de vocês. 

Queria que o meu cuidado não os sufocasse nem tirasse de vocês a liberdade de ser quem são. 

Que a infinita vontade de protege-los não os leve pelo caminho da dependência psicológica de quem quer que seja. 

Que a vontade de carrega-los no colo pra sempre não os impeça de andar com seus próprios pés e trilhar os caminhos que vocês escolherem. 

Que esse medo de que alguma coisa ruim aconteça a qualquer instante não os torne medrosos diante dos desafios da vida. 

Que o meu coração apertado cada vez que temos que ficar longe nos torne mais fortes ao invés de inseguros, na certeza de que estamos trilhando juntos o caminho do aprendizado da maternidade, eu aprendendo a ser mãe, vocês a serem filhos. 

E que o amor, apenas o amor, norteie nossas escolhas, nossas vidas e nossos abraços.

Vou envelhecer repetindo, feito um Buzz com a voz baixinha de pilha gasta: "ao infinito e além". O mundo é de vocês, meus filhos, sempre será.



segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Da falta

Era dessa humanidade desprovida de brutalidade que eu sentia falta. Desse doar-se, como uma mãe ao filho, sem impor nem cobrar nada. 

Era dos risos por nada e do abraço apertado numa manhã ensolarada de sábado. 

Eu sentia falta era do cheiro de cumplicidade. Do estalido mastigatório da refeição compartilhada em volta da mesa, entre gargalhadas e silêncios. Dos segredos divididos, da construção daquilo que se deseja para o mundo. 

Era dessa gentileza, movida sem exageros, numa infinita mão dupla. Do cuidado que só se tem com aqueles que a gente deseja manter por perto. 

Era da falta que isso faz.